MEIA MARATONA DE LISBOA 2013 - A MINHA QUINTA


24-03-2013 - 7H40m

Foi a hora que o telemóvel despertou para me tirar da cama, rumo a um duche reparador de uma noite mal dormida, ou antes, não dormida.

Nem mais!!! O entusiasmo e a ansiedade eram tais que, à semelhança das noites anteriores de outras MM, dormir/descansar, foi tarefa quase impossível. Diria mais, tem sido mais difícil conseguir dormir nas noites anteriores às MM, do que conclui-las dentro dos objectivos preconizados.

Deste episódio já estamos conversados; interessa agora dar a conhecer um pouco dos contornos e factos mais marcantes desta minha participação na Meia de Lisboa 2013.

 
A imponência da Ponte 25 de Abril ajuda também a tornar esta Meia Maratona
como uma das mais consagradas do circuito mundial

Para já, vale a pena fazer um preâmbulo relativo aos preliminares desta minha ida a Lisboa, bem como, o que me motivou a fazer parte daquele "maralhal" de 40.000 personagens que se concentraram no encontro esquerdo da ponte 25 de Abril, para partilharem 1,.. 2, ...3 horas de puro prazer pelas corridas e, no caso de uma grande maioria dos participantes, do hábito saudável de caminhar.

A fixação pela participação nesta prova teve origem na "frustração" de não ter conseguido participar na edição do ano passado, uma vez que não reuni em tempo útil a "logística" indispensável para à última da hora poder fazer parte dos 35.000 atletas inscritos nessa edição, o que, diga-se em abono da verdade, caso tivesse ido, seria um risco monumental, porque ainda não tinha corrido nenhuma MM e a minha condição atlética não inspirava muita confiança, logo, alguma coisa poderia vir a correr mal.

Ora, não tendo participado na edição do ano passado pelas razões atrás referidas e já com uma experiência de quatro MM nas pernas que entretanto adquiri, a minha participação nessa prova não poderia passar deste ano.

E, de facto, não passou!!!



Percurso da Prova

Tendo conhecimento que a Associação de Funcionários da Universidade do Minho - AFUM, costuma organizar todos os anos uma viagem com o intuito dos seus associados  e demais pessoas interessadas participarem nesta prova, com estadia privilegiada na Pousada da Juventude em Almada,  tratei logo de garantir um lugarzinho para mim no inicio deste ano, porque, desta forma, a tal "logística" que me faltou no ano passado, ficaria assim garantida, desde a inscrição automática na prova, ao transporte e ao alojamento próximo da partida da prova,  por um apelativo preço de 59,00€.

Garantido este passo, impunha-se agora preparar-me o melhor possível para a prova.

Com o alento da marca efectuada na MM de Viana, motivação não faltou para não falhar a nenhum treino e, de facto não falhei. Já quanto à qualidade, sequencialidade e oportunidade dos mesmos é que tenho algumas dúvidas.

O dia da prova aproximava-se vertiginosamente e a ansiedade crescia na mesma proporção, até que quinze dias antes, lá fiz um dos derradeiros testes com o pessoal dos Braguinhas, no percurso da Morreira, que tem exactamente os mesmos 21 Km de uma MM. As indicações foram bastante satisfatórias, tendo em conta o tempo registado e o nível de cansaço observado no final desse treino.

Aproveito desde já para agradecer ao Amílcar, ao Imperadeiro, ao Zé Carlos, ao Zézinho e ao Barrocas que fizeram questão de me ajudar nesse treino.

Confiante que me encontrava numa condição física satisfatória, estabeleci como objectivo principal para esta MM, tentar baixar da 1H45m.

Foi com esta fixação que parti para Lisboa no Sábado anterior à prova, na tal excursão organizada pela AFUM, onde acabei por me encontrar com uma "catruzada" de pessoal conhecido destas andanças das corridas, nomeadamente BRAGUINHAS que se treinam comigo aos Domingos de manhã.

Nesta excursão com "cinquenta e tal atletas a bordo" preconizavam-se objectivos para todos os gostos e feitios, desde uma Marlene, um Antunes, um Magalhães, entre outros, que aspiravam a lugares cimeiros nos seus escalões, como pessoal como eu que se batia por "objectivos mais amadores", até pessoal que apenas pretendia concluir a prova, o que não deixava de ser uma aspiração igualmente nobre e valorosa.

A viagem até à capital, embora algo demorada, acabou por ser agradável, especialmente pelo convívio e por algumas amizades que naturalmente se criaram.

Chegamos por volta das 18H00 a Lisboa, directos à tenda da organização da prova, situada algures entre o Museu da Electricidade e a Torre de Belém, para aí se levantarem os dorsais do pessoal inscrito.

Tenda da Organização da Prova - Entrega dos Dorsais

Aqui já se sentia aquela atmosfera característica dos preliminares  deste tipo de provas, onde o pessoal vai rodando pelos vários stands à procura das melhores recordações para memória futura, a par de algumas trocas de opiniões e experiências com outros atletas participantes.

Recolhidos os dorsais e depois de assimilado o primeiro contacto com a prova, lá retomamos a marcha, rumo à outra margem do Tejo, a fim de nos instalarmos na Pousada de Almada, para o merecido  "descanso do guerreiro" junto  ao local do inicio da "batalha".

Bem...., o descanso foi o que já se sabe, restava-nos apenas que um duche retemperador a par do Voltarene e de um pequeno almoço energético, que colmatasse as mazelas de uma noite mal dormida.

Como Cristo Rei nos acolhia enquanto
esperávamos pelo tiro de partida

Aparentemente não me ressenti assim tanto como isso, pior seriam as duas horas em pé à espera do tiro de partida, onde cada vez me sentia mais contraído à medida que a ordem de partida se aproximava .
 
Estas duas horas de "seca", devem-se ao facto de eu ter alinhado em partir com o pessoal que tinha aspirações na classificação e queria posicionar-se nas primeiras filas do funil para não perder muito tempo no inicio da corrida.
Essas duas horas lá se foram consumindo a aturar as "baboseiras" do speaker de serviço e  a assistir ao azul avermelhado que ia tomando conta da Praça da Portagem, como consequência do assalto a esse local do crime pelo pessoal que iria participar na caminhada e na mini-maratona. 



O azul avermelhado ía tomando conta
 da Praça da Portagem

Uns 15/20 min antes do tiro de partida a chuva lá quis também dar um ar da sua graça, chegando mesmo a assustar durante uns bons 5/10 min, mas lá se ficou por aí e, que eu desse por ela, não incomodou mais.

O tiro de partida lá foi dado pelo António Costa, Presidente da CML e eis-nos no meio daquele "maralhal" todo, rumo à outra margem do Tejo, na minha primeira travessia   a correr pela Ponte 25 de Abril na tentativa de captar as melhores emoções e sensações que este quadro me podia oferecer.

A massa humana que a partida comporta
Confesso que nesses 9/10 minutos de  travessia da ponte, não fui assim tão acossado de  sensações e emoções fortes como isso!!! 

Nos primeiros 500 m após a partida, a minha primeira preocupação era a de tentar desembaraçar-me o mais rapidamente possível daquele maralhal de pernas que se atropelavam umas às outros; para depois encontrar o meu ritmo de corrida rumo aos objectivos traçados.



Lisboa como quadro de fundo enquanto
atravessamos a ponte

Mesmo assim, a meio do tabuleiro da ponte, ainda me detive a procurar o farol do Bugio para os lados da foz do Tejo, bem como a percorrer toda a linha de Oeiras até à Praça do Comércio, numa  Lisboa acabada de acordar para acolher os forasteiros que começavam a descer Alcântara, rumo ao um Terreiro do Paço de cara lavada para estas inaugurações pré-eleitorais.

Atravessada a ponte e começando já a descer para Alcântara, dou comigo a rolar a um ritmo muito acima dos 5,00 min/km, que seria a minha média pré-estabelecida para atacar esta prova, que se pretendia abaixo da 1H45m.

Como ainda estávamos praticamente no inicio da prova e esta parte do percurso não estava a causar grande mossa, porque era a descer e o cansaço não se fez sentir de sobremaneira, lá continuei todo "lampeiro" rumo ao Terreiro do Paço, com passagens aos 6, 7 e 8 Km, lá pela Av.24 de Julho, 15/20 seg/Km acima/abaixo do ritmo previsto.

Nesta fase da corrida ainda se misturavam atletas com objectivos diversos na prova, já que com alguma facilidade se iam ultrapassando atletas que começavam a dar de si, mas também muitos outros que fugiam de mim a sete pés. Isto, para não falar dos quenianos e etíopes que passaram por mim que nem umas flechas já em sentido contrário, lá pelo Largo de Santos.

O colorido da "festa" ia-se tornando cada vez mais intenso à medida que o "pessoal" que vinha já no sentido da meta se ia cruzando com os que, tal como eu, ainda seguiam em sentido contrário, para fazer a viragem no Terreiro do Paço.

Mas é também este movimento de diferentes sentidos que dá aquele colorido especial à prova, tornando-a mais popular e apelativa, já que se cruzam aqui também motivações e objectivos completamente diversos!!!

Passado o Largo de Santos e logo de seguida o Cais do Sodré, entramos no renovado passeio da Ribeira das Naus, que o António Costa, em ano de eleições autárquicas, fez questão de inaugurar da semana anterior.

Nessa parte do percurso o público também quis dar um ar da sua graça, presenteando os atletas com uma assinalável moldura humana, a incentivar os corpos que já se começavam a desgastar, até por força da nova calçada que ali colocaram nesta nova intervenção "minimal" da Ribeira das Naus/Terreiro do Paço, fruto das novas tendências copy/paste da arte de projectar as cidades.

Aproximava-se o primeiro bidão de viragem logo após o Terreiro do Paço, lá pelo Km 8,5. Aqui sim, os primeiros sinais de fadiga quiseram reagir aos 500/600 m de empedrado que o tal troço Ribeira das Naus/Terreiro do Paço nos ofereceu, com a agravante de o termos que repetir em sentido contrário.

Penso ter virado o bidão pelos 40 min de prova, ou seja, praticamente 2min abaixo do tempo previsto, o que me levou a cogitar com as minhas pernas que teria que optar por reduzir um pouco mais o ritmo, para que na parte final da prova me conseguisse aguentar minimamente.

A viragem do bidão logo após o Terreiro do Paço fez-se ao som de Rehab da incontornável Amy Winehouse, que uma das bandas de serviço quis oferecer aos atletas, e que alguns deles também ripostaram acompanhando ofegantemente a cantoria, como foi também o meu caso.

Depois da viragem, é com alguma satisfação que me apercebo que o grosso do pelotão seguia atrás de mim ainda em sentido contrário, ou seja, no meio dos "supostos" 12 mil participantes da MM, eu ainda não era dos "piorzinhos". Claro está, que aproveitei esse facto para incrementar um pouco mais de motivação ao meu desempenho.

Até Alcântara, lá pelos 12 Km, o percurso repetiu-se pela Av. 24 de Julho, agora em sentido contrário. De realçar aqui  a fraca adesão e animação que esta parte do percurso mereceu por parte dos alfacinhas.

Na aproximação ao abastecimento que se fazia sob a Ponte 25 de Abril, lá pelo 12,5/13 Km, as minhas pernas, a par da frequência cardíaca, quiseram dar-me o primeiro sinal sério de que tinha mesmo que abrandar o ritmo, ou seja, tinha que me deixar de entusiasmos, se queria atingir os objectivos propostos.

Lá tentei convencer-me dessa nova condição e julgo ter de facto abrandado ligeiramente o ritmo, para valores ligeiramente abaixo dos 5 mim/Km. Aproveitei também para me abastecer de um bidão Powerade e lá segui, rumo ao ataque final da prova.

Nesta fase da prova acompanhava-nos já um sol menos envergonhado que, a par do esforço acumulado, aqueceu um pouco mais o corpo, ao ponto de a camisola interior começar também a incomodar. Traduzindo isto em "miúdos", o cansaço já começava a tomar realmente conta de mim.

Aí, os piores cenários começaram a tomar de assalto os meus pensamentos!!!.... Não teria exagerado demais na 1ª metade da prova e agora nem sei se vou aguentar até ao fim??? Cogitava eu com as minhas pernas!!!

Não sendo um grande "expert" nestas coisas das corridas, no entanto já acumulei alguma experiência de outras meias anteriores, onde as coisas não se passaram de uma forma muito diferente. Quando chegamos a esta fase da prova e os sintomas são estes, o melhor é deixar rolar as pernas ao ritmo que elas pedem e logo veremos aonde esse ritmo nos levará.

Dito e feito, deixei-me ir ao sabor do que o meu corpo pedia, baixando ainda mais um pouco o ritmo em que seguia.

Com este novo cenário lá cheguei à zona meta, junto ao Padrão dos Descobrimentos, lá pelo 15 KM, só que o pior ainda estava para vir.

Quando se passa pela meta aos 15 Km e ainda temos mais 6 Km para correr, o cansaço parece que duplica. É de facto uma dor de alma, sabermos que: "já quase não temos vida para isto" e mesmo assim, numa atitude quase masoquista, ainda nos massacramos física e mentalmente por causa de uma corrida (que até a poderíamos ver pela televisão)!!!

Mas já sabíamos ao que íamos, por esse facto só tínhamos que continuar a dar corda à sapatilha e redireccionar o chip rumo a Algés que era a referência seguinte da prova.

Era em Algés, na zona frontal ao terreiro do Optimus Alive, que se situava o 2º bidão para a última viragem rumo à meta final.

Os 3 Km que nos levariam até Algés foram até esta fase da prova os mais dolorosos de percorrer, já que era manifesta a perda de ritmo que estava a sentir e as pernas pareciam não quererem colaborar mais. Claramente, teria que seguir ao ritmo que elas me pediam.

Apesar da luta interior com que me debati, lá consegui chegar ao bidão de Algés, mas, com uma série de concorrentes a passar por mim que nem umas flechas e eu sem forças para reagir.

Ainda assim, dobrei Algés com cerca de 2 min abaixo/acima do meu objectivo, razão pela qual me senti um pouco mais aliviado, já que para atacar os três últimos bastava-me rolar a pouco menos de 6 min/Km, o que, mesmo em muito esforço seria sempre capaz de conseguir.

Imediatamente a seguir à viragem era oferecido o último abastecimento liquido. Lá consegui sacar um copo de Powerade, bebi um trago, e só desejei que a energia  dessa bebida me regenerasse o suficiente para concluir a prova dentro dos objectivos pretendidos.

Convencido de que tal seria verdade, lá segui ofegantemente a minha marcha, à espera de tornar a ver novamente os Jerónimos.

Os Jerónimos mantinham-se afastados do horizonte, não querendo dar mostras de aparecerem tão cedo!!!

O Padrão dos Descobrimentos é que começou a reaparecer lá longe, mas, a cada passada que dava, parecia que o monumento se afastava mais e, assim, voltava aquela luta interior, em desespero de causa pela conclusão da prova.

Já só faltavam praticamente 1,5 Kms para a conclusão da prova e fazíamos neste momento a aproximação ao Centro Cultural de Belém. As forças estavam quase no limite, mas ainda seriam as suficientes para não deixar de concluir esta meia dentro dos objectivos preconizados.



Quase a virar para a recta da meta - Como eu estava todo rotinho!!!

A arrastar-me até à meta, que se situava já próxima da Praça do Império, lá consegui concluir a prova, com uma série de atletas a ultrapassar-me na recta final, tal era o meu desgaste!!!

Mesmo assim, ainda deu para aquele sprint final em cima da meta, para a fotografia e para retirar os últimos segundos ao tempo final, que foi de 1H43m48s.

Tenho que aqui reconhecer que esta marca constituiu para  mim uma agradável surpresa, mas que não deixa de ser uma recompensa, não tanto à minha valia atlética, mas acima de tudo à preserverança e esforço desenvolvidos!!!

Resta-me agradecer a todos aqueles que me ajudaram directa ou indirectamente neste exercício de superação, na certeza de que cada quilometro por mim percorrido foi celebrado com todos!!!

Aqui se reproduzem alguns testemunhos desta inesquecível participação na prova:


http://www.myvideofinish.com/home/childPages/show_videoAthlete.aspx?r=222240


Alguns dos atletas que rumaram comigo a Lisboa para participar na FESTA





















Comentários

  1. Ora cá estou eu... ;)
    Fico a aguardar então o relato da nossa prova gémea. :)

    Abraço!!!

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