MEIA MARATONA DO DOURO VINHATEIRO - 2013 - A MINHA SEXTA

19-05-2013

A manhã despertou com  um sol envergonhado e triste, ainda se observavam alguns pingos de chuva que escorriam medrosamente pela vidraça. O cinzento vindo lá do horizonte não se estava revelar muito acolhedor para um Domingo em familia BRAGUISTA. No caso, até nem se tratava de uma má nova, já que para a corrida que se avizinhava, estas condições climatéricas seriam mais desejaveis que condições de tempo com temperaturas elevadas e a exigirem mais hidratação.

Estas eram as condições climatéricas com que me deparei ao acordar pelas 7H15m, mas a prova desenrolava-se a 150 Km de casa, do lado de lá do Marão, para a Região do Alto Douro Vinhateiro, e o meu desejo era que estas condições se mantivessem por lá, para evitar sofrimentos por desidratação durante a prova!!!

O saco e o "farnel" já estavam preparados de véspera, haveria agora que me despachar no duche que se pretendia reparador de uma noite dormida aos sobressaltos, degustar a banana e o iogurte da praxe e ir ao encontro do pessoal que de certeza já estaria em "pulgas" à minha espera, para rumarmos a mais uma daquelas provas imperdiveis nos circuitos das Meias Maratonas que se vão organizando por aí.

A hora de encontro estava marcada para as 8H00 da manhã e quando cheguei ao local combinado, verifiquei que afinal não era o último, faltava ainda a Valquiria e o Ângelo, a carrinha com o pessoal da Espiral, bem como o meu irmão que pelos vistos se encontrava à nossa espera mais à frente e o Alcaide que acabou por não aparecer.

Reunido o pessoal e depois de apanhar-mos mais à frente o meu irmão, lá partimos catorze BRAGUINHAS, rumo àquela que se diz ser a mais bela Meia Maratona do mundo.


Logotipo da Prova
A hora e um quarto de viagem até ao Peso da Régua consumiu-se sem grandes sobressaltos e em amena cavaqueira até ao "local do crime", mas, quando lá chegamos,  a margem de manobra que possuia-mos para arranjar estacionamento, levantar os dorsais e apanhar-mos o transporte para a meta de partida começava a escassear.  

Dito e feito, para se conseguir estacionamento, a "coisa" não esteve facil e originou até que o pessoal que vinha nos outros carros se dispersasse.  Haveria agora que nos despachar-mos com a troca de equipamentos e as últimas massagens, para  nos encontrar-mos com o pessoal junto ao Museu do Douro, no sentido de obtermos os nosssos dorsais e apanhar-mos o mais rapidamente possivel o transporte para a Barragem de Bagauste, onde se situava a meta de partida.

Entre aquilo que eram as nossas pretensões e o panorama com que nos deparamos quando chegamos junto ao Museu do Douro, era como se de uma missão impossivel se tratasse!!!

De facto, quando pensava-mos que teriamos apenas que levantar os dorsais e apanhar de seguida a camioneta que nos levaria até à barragem, vimo-nos confrontados com um cenário inesperado (ou talvez não) a pouco mais de meia hora do tiro de partida, previsto para as 11H00. Entre atletas que iam fazer a Meia Maratona e caminhantes que iam fazer a Mini, podemos afirmar pela certa que a essa hora ainda se encontravam por transportar mais de metade dos participantes.


A imensidão de participantes à espera dos autocarros
Escusado será dizer, que os atletas participantes davam já mostras de uma grande insatisfação com a organização do evento, agravada pelo facto de não ter aparecido nenhuma camioneta para transportar o pessoal, durante quase 1/4 de hora, isto, a meia hora do horário previsto para o tiro de partida.

Inevitavelmente, a questão que se colocava era: como é que a organização iria "despachar" aquele maralhal todo de pessoas dentro do horário previsto???

Sem camionetas a aparecerem para nos transportar até à barragem e com uma falha monumental de elementos da organização que respondessem pelo sucedido, deixou a mais paciente das almas completamente desesperada.

Pelas 10H45m lá apareceu uma série de camionetas seguidas para nos transportar até à meta de partida. Claro está, que aquilo foi um "ver se te avias" do pessoal que estava desesperado a precipitar-se para as "ditas cujas", na tentativa de não perder o seu lugar na meta antes do tiro de partida.

Lá chegamos à barragem pelas 11H10m e aí percebeu-se que a organização teve o bom senso de adiar o tiro de partida para as 11H20m, até que os atletas participantes na MM  acabados de chegar se posicionassem devidamente. Escusado será dizer que este adiamento não agradou também ao pessoal que já aguardava impacimentemente no local da partida.


Aspecto da Partida
 11h15m - Foi dado o tiro de partida para os concorrentes de cadeiras de rodas, altura em que eu tentava aproximar-me dos lugares da frente do funil de partida, até que encontrei o Carlos Castro e o José Costa (Pardelho) dos Braguinhas, o que me levou a deixar-me por alí, sem avançar mais.

Durante os 3/4 minutos que restavam até ao tiro de partida, embora sem grande espaço para o fazer, ainda tentei os últimos alongamentos da praxe, para que não partisse completamente frio. Aí tentei também olhar o mais distante possivel sobre o espelho de água da albufeira retida pela barragem e famosas encostas "socalqueadas" deste Douro Vinhateiro para turista apreciar!!!

11h20m - Foi dado o tiro de partida para a prova rainha. Demorei sensivelmente 1'20''  desde o tiro até passar o portico da meta, onde se encontrava o sensor de chip que iniciava a contagem liquida do tempo dos atletas.

A confusão de pernas durante os primeiros quinhentos metros do percurso era tal, que, tentar qualquer ultrapassagem nessa fase da prova, era uma missão quase impossivel. Daí que o primeiro quilometro do percurso fosse para esquecer em termos de aproveitamento para o meu tempo final na prova.


Como é possivel correr no meio desta confusão???

Ao fim do 1º kilometro de prova começou a ter-se mais espaço livre para se correr dentro do N/ ritmo e, é por essa altura que passa por mim o Zézinho, que fiz questão de o acompanhar durante quase 500 m, mas como não tinha pernas para ele, deixei-me ficar. Mesmo assim, nesse 2º Km fiz 4' 38".

O ritmo do 2º Km permitiu contrabalançar o baixo ritmo do 1º. A partir daqui haveria que moderar a corrida para um ritmo ligeiramente abaixo dos 5"/Km, que era o ritmo médio preconizado para esta prova, no sentido de tentar fazer um tempo próximo do conseguido na MM de Lisboa.

Foi de facto dentro desse ritmo que estabilizei a minha corrida, aproveitando também para desfrutar o Douro que ia refletindo as encostas aos socalcos que pendiam sobre o leito do rio.

O quadro era de facto avassalador e haveria que o apreciar intensamente, tal como, provavelmente, os restantes  companheiros de corrida o faziam.

Até ao 1º bidão de viragem que se situava pelo 7º Km, tudo foi correndo dentro da normalidade, com o meu ritmo de corrida perfeitamente estabilizado, ligeiramente até, acima do previsto, mas como me ia sentindo bem, lá continuei "p'ra bingo".

Na zona do 1º bidão, vejo a Valquiria que já tinha virado e seguia à minha frente uns 400 m. Ainda me passou pela cabeça tentar ir buscá-la para seguir com ela, mas a distância era já consideravel para tal pretensão.

Por essa altura começaram a cair uns pingos espessos de chuva, que se mantiveram durante os 2 km seguintes, o que permitiu arrefecer e hidratar o corpo um pouco mais.

Já no sentido inverso do percurso, dou por mim a cruzar por uma série de "comparsas" conhecidos que ainda seguiam para a viragem do bidão, no caso, o meu irmão, o Antunes, o Miguel e mais dois ou três Braguinhas que partiram atrás de mim e que mais à frente acabaram por me ultrapassar.

Nesta fase do percurso, enquanto cruzava com o pessoal que ainda vinha em sentido contrário, deu para perceber que provavelmente seguia no 1º 1/3 do pelotão, o que despertou em mim uma motivação extra, com a vantagem de estar quase a chegar aos 10 Km de prova, num ritmo acima do esperado.

Nem mais, aos 10 Km, registo o tempo de 47' 28", o que me deixou bastante agradado, quer pelo tempo, quer pelo facto de sentir que ainda tinha reservas para continuar os kilometros seguintes nesse ritmo.

Aqui comecei a cogitar com as minha pernas que, eventualmente, conseguiria nesta prova baixar o meu record pessoal da MM, caso não me viesse aconttecer um qualquer baque!!!

Foi também por esta altura que se juntou a mim um "castiço", adepto dos trails, que estava a fim de seguir no meu ritmo, aproveitando o facto para "por a conversa em dia". Seguimos juntos até ao 13º Km, altura em que ele "foi à sua vida".

De imediato chegamos ao 14º Km, 150/200m antes de se cruzar novamente a meta de partida junto à barragem, a partir da qual se começava a descer ligeiramente até à rampa que antecede a ponte pedonal que nos levaria à Vila do Peso da Régua.

Essa parte do percurso agradou-me de sobremaneira, já que para fazer os 3 Km seguintes teria apenas que rolar sem grande esforço, porque a inclinação descendente encarregar-se-ia de fazer o resto.


Aspecto do percurso entre a barragem e o Peso da Régua

Por essa razão passei o 15º Km num ritmo praticamente idêntico ao do 10º Km e com a sensação de que o poderia manter, pelo menos até à entrada da ponte.

Escusado será dizer que por essa altura já só fazia contas de cabeça, relativamente a um mais que provavel record pessoal que estava na eminência de bater. Considerando a 1H11m que tinha acabado de registar aos 15 Km e caso conseguisse manter o mesmo ritmo, ou mesmo ligeiramente inferior até ao final da prova, conseguiria um tempo na ordem da 1h42/43m.

Umas centenas de metros antes de entrar na ponte passou por mim mais um Braguinha, no caso o Peixotinho, que só teve tempo de me cumprimentar e  perguntar se queria seguir com ele, para de imediato fugir de mim a sete pés. De seguida passou também uma cara feminina que não me era estranha destas andanças das MM.


Eu ao fundo, na altura em que me preparava para ultrapassar o Homem das Asas

Imediatamente antes destes "encontros imediatos", tinha também eu passado pelo homem das asas e da fralda que transportava aquela celebre  "garrafona" às costas!!!


O Homem das Asas
 Lá entrei na tal ponte pedonal sobre o Douro, que é uma das imagems de marca do Peso da Régua, pelos seus caracteristicos arcos em estrutura metálica. O quadro até era deslumbrante, quer pela beleza da ponte, quer pelo enquadramento com o rio e pela moldura humana que lá se instalou, mas que custou a vence-la, lá isso custou!!!

Foi mais ou menos a meio da ponte, onde se encontrava o marcador do 18º Km que eu senti o pimeiro grande indicio de quebra fisica. Mas, como já só faltavam 3 Km e tinha o meu record pessoal para bater, fiz um bocado mais de sacrificio e lá tentei não ceder muito.

Eu (de costas) à saida da Ponte Pedonal

Não sei porque razão, pensava que o percurso depois da ponte até à meta final era sempre a descer e, esse facto ía-me deixando mais tranquilo!!!

Azar o meu!!!

A descida afinal revelou-se uma subida. Embora não fosse muito extensa nem muito inclinada, esses 300/400m a seguir à ponte, revelaram-se um pouco penosos, já que não estava preparado para atacar um rampa, embora que ligeira, quando pensava que era uma descida.

Lá conseguimos superar esse acidente e, então sim, os 1500m que se seguiram eram ligeiramente a descer, em tracado citadino, onde uma vasta moldura humana ajudava com os últimos incentivos.

Esse facto permitiu-me retomar o ritmo dos 5 min/Km, até à última rotunda que se situava a aproximadamente 500m da meta final, sendo que a partir da viragem nessa rotunda teriamos que nos bater contra a última rampa do percurso que nos levaria até à meta.

Ao entrar na rotunda, apercebo-me da Valquiria a sair dela, o que deu para perceber que entre a viragem no 1º bidão e esta rotunda, devo-lhe ter ganho uns 200m.

Contornada a rotunda, inicio o ataque à rampa final, mas, aqui, as coisas não correram lá muito bem!!! As pernas devem ter relaxado de tal forma na descida que quase não reagiram à vontade de concluir a prova.

Faltava pouco mais de 400m e as coisas não tinham corrido muito mal até aqui!!! Não ía ser esta quebra final que me impediria de atingir os objectivos perseguidos.

Reagi como pude ao baque que me deu e lá segui lentinho (5'40/50")/Km até à meta final.

Nesta fase final da prova, fui ultrapassado por uns 6/8 atletas, um dos quais o José António (Becas) que passou por mim que nem uma flecha.

A custo lá me aproximei da meta. Lembro-me então que nessa altura não tinha o dorsal preso à camisola porque a chuva quase o desfez. Pego no dorsal e ao chegar à meta ainda consegui com a mão que ele ficasse visivel para um eventual registo para a posteridade.

Não me apercebi nas várias fotos que já vi sobre esta prova que alguém tivesse registado a  minha chegada, mas no video da meta de chegada é visivel esse facto, como é visivel também o meu 925º lugar com 1H40m51s, no link da Classificação Geral, que aqui se reproduz:

  925 5999 Adriano Ribeiro Pinto M50 M 1898 - Braguinhas 01:41:59 01:40:51 00:36:14 00:35:07

O meu Video Finish:

http://www.myvideofinish.com/home/childPages/show_videoAthlete.aspx?r=241825


Pelo record pessoal obtido, pelo prazer que é participar descomprometidamente nestas provas em celebração com os colegas que nos acompanham, pela beleza do percurso e acima de tudo pelo sentimento de missão cumprida, guardarei em boa memória a participação nesta MM, apesar de todas as falhas de palmatória da organização da prova!!!

O meu agradecimento a todos que directa ou indirectamente me ajudaram nesta superação.

Os "comparsas" do costume:




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